sábado, 25 de abril de 2015

Inefável




É a simetria.
Ou pode ser
Uma parte - apenas
Deste incompreensível encanto.

...

É o teu quase rir.
Ou pode ser
A linha tênue entre teus olhos e boca
Que tem esmagado meu respirar.

...

É o teu não me ser.
Ou pode ser.
Querer, quero tanto
Já não menos que em breve.
Mesmo que breve.
Porém, não só.

...

Não é a tua negação.
Mas poderia ser.
Porque não foi.
E espero que não seja.
Porque se fosse..
Você sorriu e eu já me perdi.

...

Eu invadiria o Louvre
De peito aberto e escancarado
Assim como faço agora.

...

Eu juro nem pedi.
E talvez nem devesse.
Só que o tempo passa na cara
Que essa confusão sempre vêm.
Mas nem sempre és tu.


Mas deveria ser.




[A. Lima]






segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Valsa-me





Como paisagem que se desloca
"Não são as árvores que correm, menino"
Contrariando a própria natureza
Na ponteira de um forte, enfraquece toda e qualquer estrutura
Metálica, bimetálica, arquitetônica..
Tudo vira arquétipo quando essa brisa risonha toca
Bate
Sem machucar
Por fora.

Amacia a carne
Afaga o ego
Cafuné seria moeda de troca, como se fosse preciso.

O céu que vai no alto, dois lados deram as mãos
Como eu fiz também
Só pra poder conhecer
O que a voz da menina quis dizer.
Que num primeiro momento, num encontrão, num esbarrão
Ou num olhar que me arrastou
Me encontro afogado
Nesse mar de fel.

Já diziam aqueles "Amargo é querer-te para mim"
Sorvete de goiaba também é doce.

Acalenta.

Tua presença é "hors concours".
Só me resta agradecer.

(A.Lima)

domingo, 29 de junho de 2014

Marques moi


Dez anos se passaram
Desde que ela se foi
E levou uns rabiscos meus.
Na minha vitrola
Bate um fado legal
E na cozinha o leite quente ferve e me suja o fogão.
Tudo aqui tá estranho
Muito mais que antes
Antes daquele cinco de abril.
Por que raios ela se foi?
E por que trovões ela veio?
Esse senhor relógio é uma graça
Mas eu nem gosto de rir com ele.
A verdade é que ela carrega consigo uma parte do mundo.
E justamente a parte que gostaria de conhecer.
Sua sutileza me embriaga
E eu que já estava tão ébrio de mim!
Os lábios dançam uma valsinha
E o risinho tímido e espontâneo parece que veio de Krypton.
Ah, como se eu fosse o Super Homem.
Mas se bem que..
Pra suportar essa saudade, só sendo mesmo.
Me arraste.
Mas me traga de volta.
Só se quiser.

[A.Lima]

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Constantine

Desgraça-me o peito
Ó, miserables,
Que me tragam nessa fumaça cinzenta
Que transportam as fagulhas por aí
Levando a alma da lenha que queimou
Contrariando sua vontade
Que quis morrer e parada
E hoje vaga em movimento constante
Numa velocidade tão breve quanto o vento
Tão intensa quanto o tufão
E ainda assim não são felizes.
Que mal há na plenitude?
O que nos faz tão incompleto
E porque plenitude não é bem ninguém?
Essas interrogações são tão confusas quanto seu nome
Eu não sei o que passa em minha mente
E não sei se alguém sabe.
Podia ser só mais um.
Mas na minha cabeça martela mais de uma vida
Mais de uma alma
E meus pulmões não conseguem entrar na dança
Pedem pra parar.
Param pra pedir.
Ainda vale a pena ser amor?

[A.Lima]

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Arritmia



Cisco nenhum ousou cair nos meus olhos
Quando, em meio ao tudo e nada
Os teus pararam nos meus.
Já os via de longe
Intactos.
Vívidos.
Colossais.
Quase um obelisco.

Mas, tal qual miragem no deserto
Foi como água quando desce a garganta.
Até chegar à barriga, vai estremecendo tudo
Rebolindo tudo
Dando vida a tudo.

Minha visão não é mais tão clara
Vez ou outra se opaca
E, em outras, se cristalina.
Nesse dia até chuviscou
Só pra natureza me tocar na pele
E como um beliscão me dizer que sim.
Que a gente demora pra encontrar um livro que procura
Mas nem sempre tem tempo pra ler.
Nem sempre tem tempo pra crer.
Nem sempre tem tempo.
Nem sempre tem.

Mas em saber que existe
Já é o suficiente.
Porque talvez o melhor da vida está em fantasiar.
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz.
E nem tudo é tristeza em solidão.
Há mais amor que em muito beijo
E você tem o coração nos olhos.
Honra a minha ter te visto piscar.
Ainda me causa palpitações.

[A.Lima]

terça-feira, 18 de março de 2014

Jaz.

E aqui se encerra a esperança dos aflitos.
Assim como os últimos serão os primeiros.
Minha vontade também cessou.
E a coragem está fraca das pernas.

Jazz.

[A.Lima]

domingo, 2 de março de 2014

Ébrio de mim.



Fujo todos os dias de mim.
O que há de mal?
Consigo sorrir e falar compassadamente.
Mas, não sei, ainda não sou eu.
Parece que moro de aluguel em mim.
Ou que estou de favor
Um mero inquilino
Um peso
Um móvel barato e efêmero.
O que há de mal?
Me pergunto todos os dias pra onde irei
Se um dia chegar a ir.
Onde eu vou parar se começar a andar agora
E nem olhar para trás?
O medo de parar no mesmo lugar que saí
Talvez me prenda nessa teia infinita
E paradoxal.
Eu quero ir, mas também gosto de ficar.
O que há de mal?

[A.Lima]