sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Fado




Onde vai parar meu riso de infância?
Achei a chave que abre o meu baú
E logo logo tornarei a perdê-la.
Essa vida é um saco, mesmo.
Sem fundo, até.
E meu café?
E esses olhinhos de amêndoa?
Nem de cigana oblíqua, nem de dissimulada
Até hoje não sei o que é oblíqua, portanto, não emprego à você
Mas dissimulada sei que tens um pouquinho.
És também um tímido canarinho.
Fala manso, mas sempre afinada!
E quando abre o berreiro, quem chora sou eu.
Por dentro.
Pelos poros que se arrepiam ao ouvir.
Mas, tudo bem, pode ir.
Me deixe.
Eu sempre estive aqui, mesmo.
Só saibas que vou contigo, em algum lugar de ti
Porque já me levou consigo.
Se eu não chegar numa garrafa, pelo mar
Pode ser que chegue pelos céus
Só não me espere tanto
Você chegou de surpresa e me fez mais feliz
Sem nunca ter esperado
Então, que eu possa retribuir, um dia, quem sabe.
Nos encontramos numa cafeteria.

Assinado,
Ulisses.

[A.Lima]